17 de outubro de 2012

Posted: 17 Oct 2012 09:37 AM PDT
Percebe-se que há novo dom na igreja. É um novo dom de línguas: o “dom de línguas soltas”.
O objeto de desejo de quem trabalha com a mídia é a novidade. Se de um lado estão os que amam a arte de noticiar, do outro lado estão os expectadores, ansiosos por algo novo, por uma notícia que poderá render bons comentários. É assim na TV, no rádio, na internet e não seria diferente no famoso Jornal de Satanás.
O que me deixa intrigado nem é o fato de os crentes serem o público-alvo deste instrumento diabólico. O que realmente me intriga é o corpo de reportagem ser composto única e exclusivamente por pseudo-mensageiros do Evangelho de Jesus Cristo. São pessoas que deveriam estar envolvidas no trabalho de proclamar as Boas-Novas do Reino de Deus mas estão, na verdade, ocupando-se dos ministérios de Satanás. Veja os ministérios que a Bíblia atribui a Satanás e compare com alguns falastrões que permeiam a igreja:
> observar os servos de Deus procurando defeito (Jó 1:7)
> acusar os irmãos (Zacarias 3:1; Apocalispe 12:10)
> mentir (João 8:44)
> roubar [a credibilidade], matar [a fé] e destruir [o que o outro tenta construir] (João 10:10)
> dizer meias-verdades a fim de promover rebeldia contra a Obra de Deus (Gênesis 3:1-5; Mateus 5:37)
 
> se fazer de anjo de luz para anunciar um "evangelho" diferente do que a Bíblia ensina (2 Coríntios 11:14).
Muitos crentes têm assumido as características acima afirmando estarem zelando do bem-estar da Obra de Deus, quando na verdade estão praticando a igrejolatria, o orgulho denominacional e a divinização da instituição física da igreja. Esqueceram-se de que a nossa luta não é contra a carne ou o sangue, mas contra as autoridades espirituais da maldade nos lugares que pertencem ao Reino de Deus.
Deixaram de anunciar a boa-nova da salvação aos descrentes para perseguir os crentes. Reduziram a multiforme Graça de Deus a um grupo de pessoas orgulhosas, veneradoras de seus templos e de sua denominação.  Engessaram o Espírito Santo e o engaiolaram dentro de suas quatro paredes. Diabolizaram tudo o que acontece fora da tutela de seus líderes. Elas atribuem conscientemente a Obra de Deus ao diabo. Fizeram da blasfêmia contra o Espírito Santo um estilo de vida, e mesmo assim continuam a negar o perdão a outros coitados que arrependidos que estão, se tornaram dignos de serem perdoados.
E você, o que está fazendo? De que lado você está? Não se omita em denunciar esta mídia diabólica. Pare de dar ouvidos a fábulas de demônios e a espíritos enganadores. Não devemos dar ouvidos e nem mesmo propagar as falaciosas acusações do inimigo contra o povo de Deus. Quem quiser acusar, que traga provas. E quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra.
Só Jesus Cristo salva.
Marcelo Reis.

18 de setembro de 2012

Caíram as máscaras dos "adoradores extravagantes"


A cada dia se tornam mais claros os objetivos interesseiros dos "adoradores extravagantes". Eles não querem andar segundo a Palavra de Deus. Rejeitaram a sã doutrina. Dessacralizaram o louvor com música, ao trazerem para os templos os agressivos estilos mundanos, criados para outros fins, e não para o louvor do Senhor. Com suas prolongadas músicas, feitas para os seus shows, convenceram boa parte da juventude cristã de que o "louvor" é a parte mais importante do culto, tornando a exposição da Palavra enfadonha e substituível.

Mas as máscaras caíram. Aliás, as máscaras dos "adoradores extravagantes" já tinham caído há muito tempo. Não é de hoje que homens e mulheres de Deus se opõem ao Movimento Gospel, suas extravagâncias e sandices. Agora, com a corajosa denúncia (feita pelo estimado bispo Walter McAlister, em seu blog) de que a Igreja Cristã Nova Vida fora "convidada amigavelmente" a pagar direitos autorais pela execução de "louvores" nos seus cultos, as verdadeiras faces dos tais "adoradores" nos foram apresentadas.

Não sou contra a venda de CDs e DVDs. Também não reprovo os pregadores e cantores que, ao participarem de eventos, recebem uma oferta das igrejas ou instituições que os convidam. Entretanto, cobrar pela execução de uma composição dentro de um templo evangélico é um ignominioso e aberrante despropósito. Analogamente, é como se os escritores viessem a cobrar pela leitura de seus livros em público! Isso mostra que os tais "adoradores extravagantes" se consideram, mesmo, astros do mundo, e não astros neste mundo (Fp 2.15). E quem os defende a todo custo é porque já se conformou com este mundo tenebroso (Rm 12.1,2).

Concluo citando a precisa descrição dos "adoradores extravagantes" feita pelo bispo McAlister, a quem parabenizo e com quem me solidarizo: "esses cantores que se venderam para emissoras de televisão, que ganham fortunas nas suas turnês 'gospel' e pela venda de incontáveis CDs e DVDs, não estão satisfeitos. Querem mais. Querem 'enterrar os ossos'. Tornaram-se mercadores da fé, e com essa última cartada, suas máscaras caem por terra. Que máscaras? As que fazem com que acreditemos que eles realmente creem que o culto é para Deus somente. Para eles, a igreja não passa de fonte de lucro. A igreja não passa de um negócio. Sim, porque, por essa ação, afirmam não acreditar que a igreja seja uma assembleia de sacrifício. Para eles, a igreja é uma máquina de dinheiro. Sua eclesiologia é clara. Suas lágrimas de comoção são teatro. Seus gestos de mãos erguidas não passam de encenação".

Ciro Sanches Zibordi

13 de setembro de 2012

Igreja x Denominação: Qual é a Sua Identidade?

 
Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?
Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?
(1 Coríntios 3:3-4)
 
Por força do hábito, sempre dizemos o nome de nossas denominações quando nos perguntam a que igreja pertencemos. Se levado em conta o sentido figurado de "igreja" aplicado à denominação, isto não é nenhum problema. O problema começa mesmo é quando nossa identidade passa a ser denominacionalista antes de considerarmos nosso papel como parte da Igreja do Senhor Jesus e do Reino de Deus.
Isto não significa que ao ser membro da Igreja de Deus eu não possa ser membro também de uma denominação. Significa sim que  a Igreja e as denominações têm importâncias e papéis diferentes no Reino de Deus, e isto não pode ser desconsiderado.
A Igreja é um corpo invisível, que subiste além das fronteiras denominacionais, composto por todos os salvos em Cristo, gentes de todo povo, tribo, língua e nação, e de todas as épocas. A denominação é apenas uma parte da Igreja do Deus Vivo, um grupo de pessoas que pensam de forma semelhante e partilham os mesmos costumes. Ela não é o Corpo de Cristo, é apenas um galho que sustenta os ramos da Videira Verdadeira, Cristo, do qual a Igreja é o Corpo.
Se limitarmos nossa visão à denominação e acreditarmos que ela é o Corpo de Cristo, acabamos por deixar de lado a multiforme Graça de Deus e damos lugar a um conceito antibíblico no que diz respeito à Obra de Deus.
Confundimos muitas vezes a Obra de Deus com a parte que nos cabe neste trabalho de provisão de salvação, no qual ela consiste. Tomamos a parte como se fosse o todo. Passamos a acreditar que o Reino de Deus está ali, bem diante dos nossos olhos, cercado por quatro paredes, sob a tutela de um ministério.
Deixamos de lado a visão de Reino, de Igreja, para assumirmos uma postura denominacional. Pregamos a placa da nossa igreja e enfatizamos o que Deus faz entre nós, como se nossas, por nós e para nós fossem todas as coisas.
Deixamos de pregar a Jesus Cristo crucificado. Deixamos de nos alegrar pelo que Ele tem feito por nós, para nos gloriarmos daquilo que temos feito por Ele.
É necessário pararmos agora mesmo para refletir. Precisamos recordar urgentemente de que não é na denominação que estamos ligados, mas na Videira. Devemos ter a consciência de que nossa denominação é apenas mais uma porta aberta para que o Evangelho seja anunciado. Congregamos com pessoas que pensam como nós, que agem como nós, que adotam usos e costumes parecidos com os nossos, e que nem por isto são melhores ou mais divinos que o resto da humanidade.
A denominação tem um inestimável valor quando ao reunir pessoas de hábitos parecidos, lhes dá maior satisfação em oferecer a Deus culto com o coração alegre. Perde porém o seu valor quando ao congregar pessoas, as separa do restante do Corpo de Cristo.
Os frutos são conhecidos pela árvore e a árvore pelos frutos. Os frutos são da árvore, não das varas.
"Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim", disse Jesus. (João 15:4)
Estamos ligados na Videira, de forma que não há meios sem os galhos. Tomemos então o devido cuidado para não darmos mais valor ao galho do que à Videira, pois assim não daremos frutos, seremos cortados, lançados fora e pisados por não haver mais em nós nenhum valor.
Somos parte da única Igreja existente em todo o universo: o Corpo de Cristo. Nele bem ajustados e ligados pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, cresceremos em graça e em amor (Ef 4:16).
 
Para a glória de Deus em Cristo Jesus,
Marcelo Reis.

27 de agosto de 2012

SÃO JOÃO EVANGELISTA, O TEÓLOGO
A PASSAGEM DA SANTA MÃE DE DEUS
Quando a santíssima e gloriosa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, segundo o seu
costume, ia ao sepulcro do Senhor para queimar aromas e dobrava seus santos joelhos,
costumava suplicar a Cristo, seu filho e nosso Deus, que se dignasse vir até ela.
Ao notar a assiduidade com que ela se acercava da sagrada tumba, os judeus foram até
os príncipes dos sacerdotes para dizer-lhes: "Maria vai todos os dias ao sepulcro". Aqueles
chamaram os guardas que haviam sido colocados ali com o objetivo de impedir que alguém
se aproximasse para orar junto ao sagrado monumento, e começaram a fazer averiguações
para saber se era verdade o que se dizia com relação a ela. Os guardas responderam que não
haviam notado nada, pois de fato, Deus não lhes permitia aperceberem-se da sua presença.
Certo dia, numa sexta-feira, a santa Maria foi, como de costume, ao sepulcro. E,
enquanto estava orando, aconteceu que os céus se abriram e o arcanjo Gabriel desceu até
ela e lhe disse: "Deus a salve, ó mãe de Cristo nosso Deus; tua oração, depois de atravessar
os céus, chegou até a presença de teu Filho e foi ouvida. Por isto abandonarás o mundo
daqui a pouco e partirás, conforme teu pedido, para as mansões celestiais, ao lado de teu
Filho, para viver a vida autêntica e perene".
Tendo ouvido isto dos lábios do santo arcanjo, voltou até a cidade santa de Belém,
tendo junto de si as três donzelas que a atendiam. Quando, então, repousava um pouco,
ergueu-se e disse-lhes: "Trazei-me um incensório, que vou orar". E elas o trouxeram,
conforme lhes havia sido ordenado.
Depois pôs-se a orar desta maneira: "Senhor meu Jesus Cristo, que por tua extrema
bondade houveste por bem ser gerado por mim, ouve minha voz e envia-me o teu apóstolo
João para que a sua visão me propicie o início da boa sorte. Manda-me também o restante
dos teus apóstolos, aqueles que já foram ter contigo e aqueles que ainda se encontram nesta
vida, de onde estiverem, para que, ao vê-los novamente, possa eu abençoar teu nome,
sempre louvável. Sinto-me animada porque atendes à tua serva em todas as coisas".
Quando ela estava orando, eu, João, apresentei-me, já que fui arrebatado pelo Espírito
Santo que me trouxe de Éfeso sobre uma nuvem, deixando-me depois no lugar onde estava
a mãe de meu Senhor. Entrei, então, até onde ela se encontrava e dei graças ao seu Filho;
depois disse: "Salve, ó mãe de meu Senhor, aquela que gerou a Cristo nosso Deus; alegrate,
porque irás sair deste mundo muito gloriosamente".
A santa mãe de Deus louvou a Deus porque eu, João, havia chegado junto a ela,
lembrando-se daquela voz do Senhor que disse: "Eis aqui a tua mãe e eis aqui o teu filho".
Nesse momento as três jovens vieram e prostraram-se diante dela.
Então a santa mãe de Deus dirigiu-se a mim, dizendo-me: "Vem orar e jogar incenso".
Eu orei desta maneira: "Senhor Jesus Cristo, que fizeste tantas maravilhas, faz alguma
também neste momento, à vista daquela que Te gerou; que tua mãe saia desta vida e que
sejam abatidos aqueles que Te crucificaram e aqueles que não acreditaram em Ti".
Depois que dei por terminada minha oração, a santa Maria disse-me: "Traz-me o
incensório". E, tomando-o, ela exclamou: "Glória a Ti, meu Deus e Senhor, foi cumprido
em mim o que prometeste antes de subir aos céus, que, quando fosse a minha vez de sair
deste mundo, virias ao meu encontro cheio de glória e rodeado de uma multidão de anjos".
Então eu, João, disse-lhe: "Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, já está para vir; e tu o
verás, conforme Ele prometeu". Ao que respondeu a santa mãe de Deus: "Os judeus
fizeram o juramento de queimar meu corpo quando eu morreu". Eu respondi: "Teu santo e
precioso corpo não verá a corrupção". Ela então replicou: "Anda, pega o incensório,
esparze incenso e ora". E do céu veio uma voz dizendo amém.
Eu ouvi esta voz, e o Espírito Santo disse-me: "João, ouviste essa voz que foi emitida
no céu depois que a oração terminou?" Eu respondi-lhe: "Sim, eu ouvi". Então o Espírito
Santo acrescentou: "Esta voz que escutaste é sinal da iminente chegada de teus irmãos aos
apóstolos e das tuas santas hierarquias, pois hoje reunir-se-ão aqui".
Eu, João, pus-me então a orar. E o Espírito Santo disse aos apóstolos: "Vinde todos e
sobre as nuvens, dos confins da terra, e reuni-vos na santa cidade de Belém para assistir a
mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo que está em comoção: Pedro, de Roma, Paulo, da
Tibéria, Tomé, do centro das Índias, Tiago, de Jerusalém".
André, o irmão de Pedro, e Felipe, Lucas e Simão Cananeu, juntamente com Tadeu, os
quais já haviam morrido, foram despertados de seus sepulcros pelo Espírito Santo. Este
dirigiu-se a eles e disse-lhes: "Não creiais que já chegou a hora da ressurreição. A razão
pela qual neste momento surgis de vossas tumbas é que haveis de ir prestar preito à mãe de
vosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, tributando-lhe uma maravilhosa homenagem; pois
chegou a hora de sua saída deste mundo e de sua partida para os céus".
Também Marcos, ainda vivo, chegou de Alexandria juntamente com os outros,
chegados, como foi dito, de todos os países, Pedro, arrebatado por uma nuvem esteve no
meio do céu e da terra sustentado pelo Espírito Santo, enquanto os demais apóstolos por
sua vez também eram arrebatados sobre as nuvens para se encontrarem com Pedro. E
assim, desta maneira, como fica dito, todos foram chegando por obra do Espírito Santo.
Entramos depois no lugar onde estava a mãe de nosso Deus e, prostrados em atitude de
adoração, dissemo-lhes: "Não tenhas medo nem aflição. O Senhor Deus, a quem deste à
luz, tirar-te-á deste mundo gloriosamente". E ela, regozijando-se em Deus seu salvador,
ergueu-se no leito e disse aos apóstolos: "Agora sim eu creio que nosso Deus e mestre já
vem do céu, que o vou contemplar e que hei de sair desta vida da mesma maneira pela qual
eu vos vi apresentar-vos aqui. Quero que me digais como tomastes conhecimento da minha
partida e vos apresentastes a mim e de quais países e latitudes viestes, já que viestes visitarme
com tanta presteza. Embora havereis de saber que meu filho, nosso Senhor Jesus Cristo
e Deus universal, não quis ocultar-me, pois estou firmemente persuadida, mesmo neste
momento, de que Ele é o Filho do Altíssimo".
Então Pedro dirigiu-se aos apóstolos nestes termos: "Cada um de nós, de acordo com o
que nos foi anunciado e ordenado pelo Espírito Santo, dê a informação à mãe de Nosso
Senhor".
Eu, João, de minha parte respondi e disse: "Encontrava-me em Éfeso e, enquanto me
aproximava do santo altar para celebrar os ofícios, o Espírito Santo disse-me: `Chegou para
a mãe do teu Senhor a hora de partir; põe-te então a caminho de Belém para despedir-te
dela'. Nesse instante uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me na porta da casa
onde tu jazes".
Pedro respondeu: "Eu também, quando me encontrava em Roma, ouvi uma voz da parte
do Espírito Santo, a qual me disse: `A mãe de teu Senhor, tendo já chegado sua hora, está
para partir; põe-se então a caminho de Belém para despedir-te dela'. E eis que uma nuvem
luminosa arrebatou-me, e pude ver também os demais apóstolos que vinha até mim sobre as
nuvens e percebi uma voz que dizia: `Ide todos a Belém'".
Paulo, por sua vez, respondeu e disse: "Também eu, enquanto me encontrava numa
cidade a pouca distância de Roma, chamada terra dos Tibérios, ouvi o Espírito Santo que
me dizia: `A mãe de teu Senhor está para abandonar este mundo e empreender por meio da
morte a sua caminhada aos céus; põe-te tu também então a caminho de Belém para
despedir-te dela'. E nesse momento uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me no
mesmo lugar em que estais".
Tomás, por sua vez, respondeu e disse: "Também eu encontrava-me percorrendo o país
dos hindus, e à medida que pregava ia conquistando confiança, com a graça de Cristo,
quando o filho da irmã do rei, de nome Lavdan, estava para receber de mim o selo de
batismo, no palácio, de repente o Espírito Santo disse-me: `Tu, Tomás, apresenta-te
também em Belém para despedir-te da mãe do Senhor, pois o seu trânsito para os céus está
para se efetuar'. Nesse momento uma nuvem luminosa arrebatou-me e trouxe-me à vossa
presença".
Marcos, por sua vez, respondeu e disse: "Eu me encontrava na cidade de Alexandria,
celebrando o ofício da terça e, enquanto orava, o Espírito Santo arrebatou-me trouxe-me à
vossa presença".
Tiago respondeu e disse: "Enquanto me encontrava em Jerusalém, o Espírito Santo
intimou-me com esta ordem: `Vai a Belém, pois a mãe de teu Senhor está para partir'. E
uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me na vossa presença".
Mateus, por sua vez, respondeu e disse: "Eu dei graças e continuo dando graças a Deus
porque, estando cheio de agitação ao encontrar-me dentro de uma embarcação e ver o mar
alvoroçado pelas ondas, veio de repente uma nuvem luminosa e deitou sua sombra sobre a
fúria da tempestade, acalmando-a; depois tomou-me e colocou-me junto a vós".
Por sua vez aqueles que haviam vindo anteriormente responderam e narraram de que
maneira se haviam apresentado. Bartolomeu disse: "Eu encontrava-me na Tebaida
pregando a palavra, e eis que o Espírito Santo dirigiu-se a mim nestes termos: `A mãe de
teu Senhor está para partir; põe-te então, a caminho de Belém para despedir-te dela'. E eis
que uma nuvem luminosa arrebatou-me e trouxe-me até vós".
Tudo isto foi dito pelos apóstolos à santa mãe de Deus: Como e de que maneira haviam
feito a viagem. E depois ela estendeu suas mãos aos céus e orou dizendo: "Adoro, exalto e
glorifico teu celebradíssimo nome, pois puseste teus olhos na humildade da tua escrava e
fizeste em mim grandes coisas. Tu que és poderoso. E eis que todas as gerações chamarme-
ão bem-aventurada".
Quando deu por terminada sua oração, disse aos apóstolos: "Lançai incenso e orai". E,
enquanto eles oravam, produziu-se um trovão no céu e uma voz terrível fez-se ouvir. E
nesse instante apareceu um imenso exército de anjos e de divindades e ouviu-se uma voz
como a do Filho do Homem. Ao mesmo tempo, os serafins circundaram a casa onde jazia a
santa e imaculada virgem e mãe de Deus. De tal maneira que tantos quantos estavam em
Belém viram todas estas maravilhas e foram a Jerusalém anunciando todos os prodígios
acontecidos.
Sucedeu que, depois que se ouviu aquela voz, o sol apareceu de repente ao mesmo
tempo que a lua, ao redor da casa. E um grupo de primogênitos dos santos apresentou-se na
casa onde jazia a mãe do Senhor para sua honra e glória. E vi também que muitos milagres
aconteceram; cegos que voltavam a ver, surdos que ouviam, coxos que andavam, leprosos
que se tornavam limpos e possuídos por espíritos imundos que eram curados. E todo aquele
que se sentia acometido por alguma doença tocava pelo lado de fora o muro da casa onde
ela jazia e gritava: "Santa Maria, mãe de Cristo, nosso Deus, tem compaixão de nós". E
imediatamente sentiam-se curados.
E grandes multidões, vindas de diversos países, que se encontravam em Jerusalém por
motivo de oração, ouviam os prodígios que se operavam em Belém através da mãe do
Senhor e apresentaram-se naquele lugar suplicando a cura de diversas enfermidades: coisa
que obtiveram. E aquele dia produziu uma alegria inenarrável, e enquanto a multidão dos
curados e dos espectadores davam graças a Cristo nosso Deus e à sua mãe. E Jerusalém
inteira, ao voltar de Belém, festejava cantando salmos e hinos.
Os sacerdotes dos judeus, por sua vez, e todo o seu povo, estavam extáticos de
admiração pelo ocorrido. Mas, dominados por uma violentíssima paixão, e depois de se
terem reunidos em conselho, levados pelo seu raciocínio néscio, decidiram ir contra a santa
mãe de Deus e contra os santos apóstolos que se encontravam em Belém. Mas, tendo a
multidão dos judeus se posto a caminho de Belém, aconteceu que à distância de uma milha
uma visão terrível apresentou-se-lhes e eles ficaram com os pés como que amarrados, e
voltaram aos seus conterrâneos e narraram aos príncipes dos sacerdotes tudo sobre a
terrível visão.
Mas aqueles, sentindo-se ainda mais irados, foram à presença do governador gritando e
dizendo: "A nação judaica veio abaixo por causa dessa mulher; expulsa-a de Belém e da
comarca de Jerusalém". Mas o governador, surpreendido pelos milagres, replicou: "Eu, de
minha parte, não a expulsarei nem de Jerusalém nem de nenhum outro lugar". Mas os
judeus insistiam falando muito e rogando-lhes pela saúde de César Tibério que expulsasse
os apóstolos de Belém, dizendo: "E, se assim não o fizeres, informaremos o imperador a
respeito". Então viu-se constrangido a enviar um quiliarca a Belém contra os apóstolos.
O Espírito Santo disse, então, aos apóstolos e à mãe do Senhor: "Eis que o governador
enviou um quiliarca contra vós por causa dos judeus que se amotinaram. Saí, então, de
Belém e não temais, porque eu vos transportarei numa nuvem até Jerusalém, e a força do
Pai, do Filho e do Espírito Santo está convosco".
Os apóstolos levantaram-se e saíram da casa levando a liteira da Senhora, a mãe de
Deus, e dirigiram seus passos a caminho de Jerusalém. Mas de repente, conforme o Espírito
Santo havia dito, foram arrebatados por uma nuvem e encontraram-se em Jerusalém na casa
da Senhora. Uma vez ali, levantaram-se e cantaram hinos durante cinco dias
ininterruptamente.
Quando o quiliarca chegou a Belém, ao não encontrar ali nem a mãe do Senhor nem os
apóstolos, deteve os belemitas, dizendo-lhes: "Não sois vós aqueles que vieram contar ao
governador e aos sacerdotes todos os milagres e prodígios que acabam de acontecer e não
lhes dissestes que os apóstolos vieram de todos os países? Então, onde estão? Agora pondeos
todos imediatamente a caminho de Jerusalém para apresentá-los diante do governador".
Note-se que o quiliarca não estava inteirado da retirada dos apóstolos e da mãe do Senhor
para Jerusalém. Então, o quiliarca prendeu os belemitas e apresentou-se ao governador para
dizer-lhe que não havia encontrado ninguém.
Cinco dias depois chegou ao conhecimento do governador, dos sacerdotes e de toda a
cidade que a mãe do Senhor, em companhia dos apóstolos, encontravam-se em sua própria
casa em Jerusalém, graças aos prodígios e maravilhas que ali aconteceram. E uma multidão
de homens, mulheres e virgens reuniram-se gritando: "Santa Virgem, mãe de Cristo nosso
Deus, não te esqueças da raça humana".
Diante destes acontecimentos, tanto o povo judeu quanto os sacerdotes sentiram-se
ainda mais joguetes da paixão; e, atirando lenha ao fogo, arremeteram contra a casa onde
estava a mãe do Senhor em companhia dos apóstolos, com a intenção de queimá-la. O
governador contemplava o espetáculo de longe. Mas, no exato momento em que o povo
judeu chegava às portas da casa, eis que, por obra de um anjo, saiu do seu interior uma
labareda que abrasou um grande número de judeus. Com isto a cidade inteira ficou
assustada e cheia de temor e todos deram graças ao Deus que foi gerado por ela.
Quando o governador viu o que sucedera, dirigiu-se a todo o povo, dizendo aos brados:
"Na verdade Aquele que nasceu da Virgem, Aquele que vós maquinastes perseguir, é filho
de Deus, pois estes sinais são próprios do verdadeiro Deus". Assim, então, produziu-se uma
cisão entre os judeus, e muitos acreditaram no nome do Nosso Senhor Jesus Cristo graças
aos prodígios realizados.
Depois que se operaram estas maravilhas por intermédio da mãe de Deus e sempre
Virgem Maria, mãe do Senhor, enquanto nós, os apóstolos, encontravamo-nos com ela em
Jerusalém, o Espírito Santo disse-nos: "Já sabeis que foi num domingo que teve lugar a
anunciação do arcanjo Gabriel à Virgem Maria, e que foi num domingo que nasceu o
Salvador em Belém, e que foi num domingo que os filhos de Jerusalém saíram com palmas
ao seu encontro dizendo: `Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor', e
que foi num domingo que ressuscitou de entre os mortos, e que num domingo haverá de vir
julgar os vivos e os mortos e que, finalmente, num domingo haverá de baixar dos céus para
honrar e glorificar com a sua presença a partida da santa e gloriosa virgem que lhe deu à
luz".
Nesse mesmo domingo a mãe do Senhor disse aos apóstolos: "Atirai incenso, pois
Cristo já está vindo com um exército de anjos". No mesmo instante Cristo apresentou-senos
sentando sobre um trono de querubins. E, enquanto todos estávamos orando,
apareceram multidões incontáveis de anjos, e o Senhor estava pleno de majestade sobre os
querubins. E eis que um eflúvio resplandecente irradiou-se sobre a santa Virgem por
virtude da presença de seu Filho Unigênito, e todas as divindades celestiais caíram por terra
e O adoraram.
O Senhor dirigiu-se então à sua mãe e disse-lhe: "Maria." Ela respondeu: "Aqui me
tens, Senhor". Ele disse-lhe: "Não te aflijas; melhor será que teu coração se alegre e sinta
gozo, pois encontraste graça para poder contemplar a glória que me foi dada pelo meu Pai".
A santa mãe de Deus elevou então seus olhos e viu nele uma glória tamanha, que é inefável
para a boca do homem e incompreensível.
O Senhor permaneceu ao seu lado e continuou dizendo: "Eis que a partir deste
momento teu corpo será transportado ao paraíso, enquanto que tua santa alma estará nos
céus, entre os tesouros de meu Pai, coroada de um extraordinário resplendor, onde há paz e
alegria próprias dos santos anjos e mais ainda".
A mãe do Senhor respondeu e disse-lhe: "Senhor, impõe-me tua mão direita e abençoeme".
O Senhor estendeu sua santa mão direita e abençoou-a. Ela a estreitou e cobriu-a de
beijos enquanto ela dizia: "Adoro esta mão direita que criou o céu e a terra. E rogo em teu
nome sempre abençoado, ó Cristo-Deus, Rei dos séculos, Unigênito do Pai! Recebe a tua
serva, Tu que Te dignaste encarnar através de mim, a pobrezinha, para salvar a raça
humana segundo teus inefáveis desígnios. Concede tua ajuda a todo aquele que invoque ou
que rogue ou que simplesmente faça menção ao nome da tua serva".
Enquanto ela dizia estas coisas, os apóstolos chegaram junto aos seus pés e, adorando-a,
disseram-lhe: "Deixa, ó mãe do Senhor uma benção ao mundo, posto que vais abandoná-lo.
Já o abençoaste e o ressuscitaste, perdido como estava, ao gerares tu a luz do mundo." E a
mãe do Senhor, tendo-se colocado em oração, fez esta súplica: "Deus, que pela imensa
bondade enviaste o teu Filho Unigênito para habitar este humilde corpo e Te dignaste a ser
gerado por mim, a pobrezinha, tem compaixão do mundo e de toda a alma que invocar teu
nome".
Orou novamente desta maneira: "Senhor, Rei dos céus, Filho do Deus vivo, recebe todo
homem que invoque teu nome para que o teu nascimento seja glorificado". Depois pôs-se
novamente a orar, dizendo: "Senhor Jesus Cristo, que podes no céu e na terra, esta é a
súplica que dirijo ao teu santo nome: santifica para todo o sempre o lugar que se celebre a
memória de meu nome e concede glória aos que Te dão graças por mim, recebendo delas
toda a oferenda, toda a súplica e toda a oração".
Depois de haver ela orado desta maneira, o Senhor disse à sua própria mãe: "Alegra-te e
regozija-te, pois todas as formas de graças e de dons foram dados por meu Pai celestial, por
mim e pelo Espírito Santo. Toda alma que invocar o teu nome ver-se-á livre da confusão e
encontrará misericórdia, consolo, ajuda e amparo neste século e no futuro diante de meu Pai
celestial".
O Senhor voltou-se e disse a Pedro, então: "Chegou a hora de dar início à salmodia". E
Pedro entoou e todas a potências celestiais responderam com Aleluia. Então um resplendor
mais forte que a luz enalteceu a face da mãe do Senhor e ela levantou-se e foi abençoando
com a sua própria mão cada um dos apóstolos. E todos deram glória a Deus. E o Senhor,
depois de estender suas mãos puras, recebeu sua alma santa e imaculada.
No momento da sua imaculada alma sair, o lugar viu-se inundado de perfume e de uma
luz inefável. E eis que se ouviu uma voz do céu que dizia: "Bendita és tu entre as
mulheres". Então Pedro, e também eu João, e Paulo e Tomé, abraçamos com toda a pressa
os seus santos pés para que fôssemos santificados. E os doze apóstolos, depois de depositar
seu santo corpo na ataúde, levaram-no.
Eis que, durante a caminhada, certo judeu chamado Jefonias, robusto de corpo, atirou-se
impetuosamente contra o féretro que os apóstolos levavam. Mas imediatamente um anjo do
Senhor, com força invisível e servindo-se de uma espada de fogo, separou as duas mãos dos
seus respectivos braços e deixou-as penduradas no ar ao longo do féretro.
Ao operar-se este milagre, todo o povo judeu que havia presenciado exclamou aos
brados: "Realmente é Deus o Filho a quem deste à luz, ó mãe de Deus e sempre Virgem
Maria." E o próprio Jefonias, intimado por Pedro para que reconhecesse as maravilhas do
Senhor, levantou-se por detrás do féretro e pôs-se a gritar: "Santa Maria, tu que geraste
Cristo-Deus, tem compaixão de mim". Pedro então dirigiu-se a ele e disse-lhe: "Em nome
de seu Filho, que as mãos que estão separadas de ti se juntem". E apenas pronunciou essas
palavras, as mãos que estavam dependuradas ao longo do féretro da Senhora separaram-se
dele e de nosso uniram-se a Jefonias. E com isto ele próprio acreditou e deu graças a Cristo-
Deus, que foi gerado por ela.
Operado este milagre, os apóstolos levaram o féretro e depositavam o seu santo e
venerado corpo no Getsêmani, num sepulcro novo. E eis que daquele santo sepulcro de
Nossa Senhora, a mãe de Deus, desprendia um delicado perfume. E durante três dias
consecutivos ouviram-se vozes de anjos invisíveis que davam graças a seu Filho, Cristo
nosso Deus. Mas, ao término do terceiro dia, deixaram de ouvir-se as vozes, com isto
ficaram cientes de que o seu venerável e imaculado corpo havia sido transportado ao
paraíso.
Verificado que ele havia sido transportado, vimos imediatamente Isabel, a mãe de São
João Batista, e Ana, a mãe de Nossa Senhora, e Abraão, e Isaac, e Jacó e Davi que
cantavam a Aleluia. E vimos também todos os coros dos santos que adoravam a venerável
relíquia de luz, cujo resplendor não se compara a nada. E o local onde teve lugar o
transporte de seu santo e venerável corpo ao paraíso estava saturado de perfume. E fez-se
ouvir a melodia daqueles que cantavam hinos ao seu Filho, e era tão doce que somente às
virgens é dado escutá-lo; e era tal, que nunca chegava a parecer demais.
Nós os apóstolos, após contemplarmos o augusto transporte de seu santo corpo,
pusemo-nos a dar graças a Deus por haver permitido conhecermos suas maravilhas na
passagem da mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por cujas orações e intercessão sejamos dignos de alcançar o poder de viver sob seu
abrigo, amparo e proteção neste século e no futuro, dando graças em todo lugar e tempo a
seu Filho unigênito, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.
Amém.
A HISTÓRIA DE JOSÉ
Narrada por Jesus a seus apóstolos
Esta é a história da morte de José, conforme foi narrada pelo Senhor Jesus a seus
apóstolos. Escrita no Egito, por volta do século IV, chegou até os tempos atuais apenas em
uma versão copta e uma outra árabe, com algumas poucas diferenças.
Neste texto, o Senhor Jesus conta a história de José, o carpinteiro, cujo ofício era o de
manufaturar arados e cangas. Fala de seus sentimentos, quando da aproximação da morte,
avisado que foi por um anjo.
A narração da agonia e da morte de José é enriquecida por detalhes interessantes, como
o da aproximação da morte, juntamente com seu séquito, inclusive com a presença do
diabo.
Alguns detalhes importantes são apresentados, como o nome dos filhos e a idade de
José, quando de seu casamento com Maria, enquanto que outros, como episódios da
infância de Cristo, confirmam o que é apresentado nos Evangelhos de Pedro, Tiago e
Tomé, sobre a Infância do Salvador. Importante alusão, no final do texto, é feita ao
Anticristo, cuja vinda convulsionará todas as nações.
A HISTÓRIA DE JOSÉ, O CARPINTEIRO
Quando nosso Salvador contou a vida de José, o Carpinteiro, a nós, os apóstolos,
reunidos no monte das Oliveiras, nós escrevemos sua palavras e depois guardamo-las na
biblioteca de Jerusalém. Além disso, deixamos consignado que o dia no qual o santo ancião
separou-se do seu corpo: foi do dia 26 de Epep, na paz do Senhor. Amém.
I. Jesus Fala a Seus Apóstolos
Estava um dia nosso bom Salvador no monte das Oliveiras, com os discípulos a sua
volta e dirigiu-se a eles com estas palavras:
- Meus queridos irmãos, filhos de meu amado Pai, escolhidos por Ele entre todos do
mundo! Bem sabeis o que tantas vezes vos repeti: é necessário que eu seja crucificado e
que experimente a morte, que ressuscite de entre os mortos e que vos transmita a
mensagem do Evangelho para que vós, de vossa parte, o pregueis por todo o mundo. Eu
farei descer sobre vós uma força do alto, a qual vos impregnará com o Espírito Santo, para
que vós, finalmente, pregueis para todas as pessoas desta maneira: fazei penitência! Porque
vale mais um copo de água na vida vindoura do que todas as riquezas deste mundo. Vale
mais pôr somente o pé na casa de meu Pai que toda a riqueza deste mundo. Mais ainda:
vale mais uma hora de regozijo para os justos que mil anos para os pecadores, durante os
quais hão de chorar e lamentar, sem que ninguém preste atenção nem console seus
gemidos. Quando, pois, meus queridos amigos, chegue a hora de ir-vos, pregai, que meu
Pai exigirá contas com balança justa e equilibrada e examinará até as palavras inúteis que
possais haver dito. Assim como ninguém pode escapar à mão da morte, da mesma maneira
ninguém pode subtrair-se de seus próprios atos, sejam eles bons ou maus. Além disso, vos
tenho dito muitas vezes, e repito agora, que nenhum forte poderá salvar-se por sua própria
força e nenhum rico, pelo tamanho da sua riqueza. E agora, escutai, que narrar-vos-ei a vida
de meu pai José, o abençoado ancião carpinteiro.
II. Viuvez de José
Havia um homem chamado José, que veio de Belém, essa vila judia que é a cidade do
rei Davi. Impunha-se pela sua sabedoria e pelo seu ofício de carpinteiro. Este homem, José,
uniu-se em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos e filhas: quatro homens e
duas mulheres, cujos nomes eram: Judas, Josetos, Tiago e Simão. Suas filhas chamavam-se
Lísia e Lídia.
A esposa de José morreu, como está determinado que aconteça a todo o homem,
deixando seu filho Tiago ainda menino de pouca idade. José era um homem justo e dava
graças a Deus em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da cidade com freqüência
para exercer o ofício de carpinteiro, em companhia de dois de seus filhos mais velhos, já
que vivia do trabalho de suas mãos, conforme o que estabelecia a lei de Moisés.
Esse homem justo, de quem estou falando, é José, meu pai segundo a carne, com quem
se casou na qualidade de consorte, minha mãe, Maria.
III. Maria no Templo
Enquanto meu pai José permanecia viúvo, minha mãe, a boa bendita entre as mulheres,
vivia por sua parte no templo, servindo a Deus em toda a santidade.
Havia já completado doze anos. Passara os seus três primeiros anos na casa de seus pais
e os nove restantes no templo do senhor.
Ao ver que a santa donzela levava uma vida simples e plena de temos a Deus, os
sacerdotes conservaram entre si e disseram:
- Busquemos um homem de bem e celebremos o casamento com ele, até que chegue o
momento de seu matrimônio. Que não seja por descuido nosso que lhe sobrevenha o
período da sua purificação no templo, nem que venhamos a incorrer em um pecado grave.
IV. Bodas de Maria e José
Convocaram, então, as tribos de Judá e escolheram entre elas doze homens,
correspondendo ao número das doze tribos. A sorte recaiu sobre o bom velho José, meu pai,
segundo a carne.
Disseram os sacerdotes a minha mãe, a Virgem:
- Vai com José e permanece submissa a ele, até que chegue a hora de celebrar teu
matrimônio.
José levou Maria, minha mãe, para sua casa. Ela encontrou o pequeno Tiago na triste
condição de órfão e o cobriu de carinhos e cuidados. Esta foi a razão pela qual a chamaram
Maria, a mãe de Tiago.
Depois de tê-la acomodado em sua casa, José partiu para o local onde exercia o ofício
de carpinteiro. Minha mãe Maria viveu dois anos em sua casa, até que chegou o feliz
momento.
V. A Encarnação
No décimo quarto ano de idade, Eu, Jesus, vossa vida, vim habitar nela por meu próprio
desejo. Aos três meses de gravidez o solícito José voltou de suas ocupações. Ao encontrar
minha mãe grávida, preso à turbação e ao medo, pensou secretamente em abandoná-la.
Foi tão grande o desgosto, que não quis comer nem beber naquele dia.
VI. Visão de José
Eis, porém, que durante a noite, mandado por meu Pai, Gabriel, o arcanjo da alegria,
apareceu-lhe numa visão e lhe disse:
- José, filho de Davi, não tenhas cuidado em admitir Maria, tua esposa, em tua
companhia. Saberás que o que foi concebido em seu ventre é fruto do Espírito Santo. Dará,
então, à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus. Ele apascentará os povos com o
cajado de ferro.
Dito isso, o anjo desapareceu. José, voltando do sono, cumpriu o que lhe havia sido
ordenado, admitindo Maria consigo.
VII. Viagem a Belém
Então o imperador Augusto fez proclamar que todos deveriam comparecer ao
recenseamento, cada um conforme seu lugar de origem. Também o bom velho se pôs a
caminho e levou Maria, minha virgem mãe, até a sua cidade de Belém.
Como o parto já estava próximo, ele fez o escriba anotar seu nome da seguinte maneira:
- José, filho de Davi, Maria, sua esposa, e seu filho Jesus, da tribo de Judá.
Maria, minha mãe, trouxe-me ao mundo quando retornava de Belém, perto do túmulo
de Raquel, a mulher do patriarca Jacó, a mãe de José e Benjamim.
VIII. Fuga para o Egito
Satanás deu um conselho a Herodes, o Grande, pai de Arqueleu, aquele que fez
decapitar meu querido parente João. Ele me procurou para tirar-me a vida, porque pensava
que meu reino era deste mundo. Meu Pai manifestou isso a José, numa visão, e este pôs-se
imediatamente em fuga levado consigo a mim e a minha mãe, em cujos braços eu ia
deitado.
Salomé também nos acompanhava. Descemos até o Egito e ali permanecemos por um
ano, até que o corpo de Herodes foi presa da corrupção, como castigo justo pelo sangue
dos inocentes que ele havia derramado e dos quais já nem se lembrava.
IX. Retorno à Galiléia
Quando o iníquo Herodes deixou de existir, voltamos a Israel e fomos viver em uma
vila da Galiléia chamada Nazaré. Meu pai José, o bendito ancião, continuava exercendo o
ofício de carpinteiro, graças a que podíamos viver.
Jamais poder-se-á dizer que ele comeu seu pão de graça, mais sim que se conduzia de
acordo com o prescrito na lei de Moisés.
X. Velhice de José
Depois de tanto tempo, seu corpo não se mostrava doente, nem tinha a vista fraca, nem
havia sequer um só dente estragado em sua boca. Nunca lhe faltou a sensatez e a prudência
e sempre conservou intacto o seu sadio juízo, mesmo já sendo um venerável ancião de
cento e onze anos.
XI. Obediência de Jesus
Seus dois filhos Josetos e Simão casaram-se e foram viver em seus próprios lares. Da
mesma forma, suas duas filhas casaram-se, como é natural entre os homens, e José ficou
com o seu pequeno filho Tiago. Eu, da minha parte, desde que minha mãe trouxe-me a este
mundo, estive sempre submisso a ele como um menino e fiz o que é natural entre os
homens, exceto pecar.
Chamava Maria de minha mãe e José de meu pai. Obedecia-os em tudo o que me
pediam, sem ter jamais me permitido replicar-lhes com uma palavra, mas sim mostrar-lhes
sempre um grande carinho.
XII. Frente à Morte
Chegou, porém, para meu pai José, a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de
todo homem mortal.
Quando seu corpo adoeceu, veio um de Deus anjo anunciar-lhe:
- Tua morte dar-se-á neste ano.
Sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no
templo do Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:
XIII. Oração de José
- Ó Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu
corpo e do meu espírito! Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste
mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o arcanjo Micael para que fique do meu lado, até
que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação. Porque a morte é para todos
causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal doméstico ou selvagem,
ou ainda de um verme ou um pássaro. Em uma palavra, é muito dolorosa para todas as
criaturas que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para suportar o transe de
ver sua alma separada do corpo. Agora, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado
da minha alma e do meu corpo e que esta recíproca separação se consuma sem dor. Não
permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto
irado para mim ao longo deste caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se mostre
amável e pacífico. Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida até
vós. Não consintas que minha alma caia em mãos do cérbero e não me confundas em teu
formidável tribunal. Não permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão
envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim.
Ó Deus, que julgais a todos na Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora
de consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda a glória pela eternidade
das eternidades! Amém.
XIV. Doença de José
Aconteceu que, ao voltar a sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela
doença que havia de levá-lo ao túmulo. Esta apresentou-se de forma mais alarmante do que
em qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José: ao chegar aos quarenta anos,
contraiu matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove.
Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano. Minha mãe logo passou dois
anos em sua casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras:
- Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso matrimônio.
Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali - tinha nessa época quinze anos de
idade - trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação
pode conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo, que formamos uma
unidade.
XV. O Início do Fim
A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme
determinara meu bom Pai. O dia em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep.
O ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se e a prata da sua inteligência e
razão sofreu alterações. Esqueceu-se de comer e de beber e a destreza no desempenho de
seu ofício passou a declinar.
Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto estava em seu leito, foi
tomado de uma grande agitação. Gemeu forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a
gritar dizendo:
XVI. Lamentos de José
- Ai, miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo! Ai do seio
materno do qual recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço
em que me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a
pecar! Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos, infâmias e
calúnias! Ai dos meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus ouvidos que escutaram
conversações frívolas! Ai das minhas mãos que subtraíram coisas que não lhes pertenciam!
Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando
alguma coisa lhes era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o
próprio fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o
levaram por maus caminhos! Ao do meu corpo todo que deixou a minha alma reduzida a
um deserto, afastando-a de Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em parte
alguma! Em verdade é que pobres dos homens que são pecadores! Esta é a angústia que se
apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz. Mas, ó
Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu corpo e de meu espírito,
cumpre em mim a tua divina vontade.
XVII. Jesus Consola seu Pai
Quando terminou de dizer estas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e, ao
vê-lo agitado de corpo e de alma, disse-lhe:
- Salve, José, meu querido pai, ancião bom e abençoado.
Ele respondeu, ainda tomado por um medo mortal:
- Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua
tranqüilidade. Jesus, meu Senhor! Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e
misericordioso! Jesus, meu libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jesus, em cuja
bondade encontra-se tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos! Jesus, olho
que vê e ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo
meus rogos e verto meus lamentos diante de ti. Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor,
conforme tem-me repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que suspeitas
humanas se aninharam em meu coração, ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem
mácula e eu havia decidido abandoná-la. Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo
apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria
como esposa, pois o que há de dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita
alguma a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de
Jesus. Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não
me condenes, teu servo e obra de tuas mãos. Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu
maravilhoso nascimento e jamais havia ouvido que uma mulher pudesse conceber sem a
obra de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua
virgindade. Ó, meu Senhor! Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria
acreditado em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que
te trouxe a este mundo. Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu, por causa da
mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com intenção de entregar-te a
Herodes. Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe a vida para
dissipar aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma
grande alegria na casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te: não sejas
imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira: se não fosses meu pai, segundo a
carne, dar-te-ia a entender que é isso o que acabas de fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e
Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual permitiste que recaíssem
sobre mim estes terríveis presságios. Suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal
para lutar comigo. Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava. Se houveres por bem
romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo sacrifício, que não será outro senão a
confissão da tua divina glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por
outro lado, filho verdadeiro do homem.
XVIII. Aflição de Maria
Quando meu pai disse essas palavras, eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar,
vendo como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as
palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que
haveria de sofrer pela vida de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é
doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na
amargura:
- Ai de mim, filho querido! Está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai
querido e adorado?
Eu lhe respondi:
- Minha mãe querida, quem entre o humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de
encarar a morte? Esta é dona de toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de
morrer como todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém,
podem chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de
passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe
querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas ver o lugar
que o aguarda lá no alto.
XIX. As Dores de José
Levantou-se, entrou no local onde ele se encontrava e pôde apreciar os sinais evidentes
da morte que já se refletiam nele. Eu, meus queridos, postei-me em sua cabeceira e minha
mãe aos seus pés. Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer dirigir-me uma
palavra, já que a morte apoderava-se dele pouco a pouco.
Elevou, então, seu olhar até o alto e deixou escapar um forte gemido. Eu segurei suas
mãos e seus pés durante um longo tempo e ele me olhava, suplicando-me que não o
abandonasse nas mãos dos seus inimigos.
Eu coloquei minha mão sobre seu peito e notei que sua alma já havia subido até a sua
garganta para deixar seu corpo, mas ainda não havia chegado o momento supremo da
morte. Caso contrário, não teria podido agüentar mais.
Não obstante, as lágrimas, a comoção e o abatimento que sempre a precedem já faziam
presentes.
XX. A Agonia
Quando minha mãe querida viu-me apalpar o seu corpo, quis ela, de sua parte apalpar,
os pés e notou que o alento havia fugido juntamente com o calor.
Dirigiu-se a mim e disse-me ingenuamente:
- Obrigada, filho querido, pois desde o momento em que puseste tua mão sobre seu
corpo, a febre o abandonou. Vê, seus membros estão frios como o gelo.
Eu chamei os seus filhos e filhas e lhes disse:
- Falai agora com o vosso pai, que este é o momento de fazê-lo, antes que sua boca
deixe de falar e seu corpo fique hirto.
Seus filhos e filhas falaram com ele, mas sua vida estava minada por aquela doença
mortal que provocaria sua saída deste mundo. Então, Lísia, filha de José, levantou-se para
dizer aos seus irmãos:
- Juro, queridos irmãos, que esta é a mesma doença que derrubou a nossa mãe e que não
voltou a aparecer por aqui até agora. O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não
voltemos a vê-lo senão na eternidade.
Então os filhos de José irromperam em lamentos. Maria, minha mãe, e eu, de nossa
parte, unimo-nos ao seu pranto pois, efetivamente, já havia chegado a hora da morte.
XXI. A Morte Chega
Pus-me a olhar para o sul e vi a morte dirigir-se a nossa casa. Vinha seguida de Amenti,
que é seu satélite, e do Diabo, a quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de
fogo, cujas bocas vomitavam fumaça e enxofre.
Ao levantar os olhos, meu pai deparou-se com aquele cortejo que o olhava com rosto
colérico e raivoso, do mesmo modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo,
particularmente aquelas que são pecadoras e que considera como propriedade sua.
Diante da visão desse espetáculo, os olhos do bom velho anuviaram-se de lágrimas. Foi
neste momento em que meu pai exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto
procurava encontrar um lugar onde se esconder e salvar-se. Quando observei o suspiro de
meu pai, provocado pela visão daquelas forças até então desconhecidas para ele, levanteime
rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo. Eles fugiram envergonhados e
confusos. Ninguém entre os presentes, nem mesmo minha própria mãe Maria, apercebeu-se
da presença daqueles terríveis esquadrões que saem à caça de almas humanas.
Quando a morte percebeu que eu havia expulsado e mandado embora as potestades
infernais, para que não pudessem espalhar armadilhas, encheu-se de pavor. Levantei-me
apressadamente e dirigi esta oração a meu Pai, o Deus de toda misericórdia:
XXII. Oração de Jesus
- Meu Pai misericordioso, Pai da verdade, olho que vê e ouvido que ouve, escuta-me,
que eu sou teu filho querido! Peço-te por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me
um grande corpo de anjos, juntamente com Micael, o administrador dos bens, e com
Gabriel, o bom mensageiro da luz, para que acompanhem a alma de meu pai José até que se
tenha livrado do sétimo éon tenebroso, de forma que não se veja forçado a empreender
esses caminhos infernais, terríveis para o viajante por estarem infestados de gênios
malignos e saqueadores e por ter de atravessar esse lugar espantoso por onde corre um rio
de fogo igual às ondas do mar. Sede, além disso, piedoso para com a alma de meu pai José,
quando ela vier repousar em vossas mãos, pois é este o momento em que mais necessita da
tua misericórdia.
Eu vos digo, veneráveis irmãos e abençoados apóstolos, que todo homem que,
chegando a discernir entre o bem e o mal, tenha consumido seu tempo seguindo a
fascinação dos seus olhos, quando chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o passo
para comparecer diante do tribunal terrível e fazer sua própria defesa, ver-se-á necessitado
da piedade de meu bom Pai.
Continuemos, porém, relatando o desenlace de meu pai, o abençoado ancião.
XXIII. José Expira
Quando eu disse amém, Maria, minha mãe, respondeu na língua falada pelos habitantes
do céu. No mesmo instante Micael, Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre
o corpo de meu pai José.
Em seguida, intensificaram-se os lamentos próprios da morte e soube, então, que havia
chegado o momento desolador. Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no
parto, enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um forte furacão ou um
imenso fogo devasta um espesso bosque.
A morte, cheia de medo, não ousava lançar-se sobre o corpo de meu pai para separá-lo a
alma, pois seu olhar havia dado comigo, que estava sentado a sua cabeceira, com as mãos
sobre suas têmporas.
Quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar por minha causa, levantei-me,
dirigi meus passos até o lado de fora da porta e encontrei-a só e amedrontada, em atitude de
espera.
Eu lhe disse:
- Ó tu, que vens do Meio-dia, entra rapidamente e cumpre o que ordenou-te meu Pai.
Porém, guarda José como a menina dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e
compartilhou a dor comigo, durante os anos da minha infância, quanto teve de fugir de um
lado para outro por causa das maquinações de Herodes e ensinou-me como costumam fazer
os pais para o proveito dos seus filhos.
Então Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no mesmo
instante em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no dia 26 do mês de Epep, em paz.
A vida de meu pai compreendeu cento e onze anos. Micael e Gabriel pegaram cada qual
em um extremo de um pano de seda e nele depositaram a alma de meu querido pai José
depois de tê-la beijado reverentemente.
Enquanto isso, nenhum dos que rodeavam José havia percebido a sua morte, nem
sequer minha mãe Maria. Eu confiei a alma do meu querido pai José a Micael e Gabriel,
para que a guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e encarreguei os
espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente, depositaram-no
junto a meu Pai no céu.
XXIV. Luto na Casa de José
Inclinei-me sobre o corpo inerte de meu pai. Cerrei seus olhos, fechei sua boca e
levantei-me para contemplá-lo. Depois disse à Virgem:
- Ó Maria, minha mãe, onde estão os objetos de artesanato feitos por ele desde sua
infância até hoje? Neste momento todos eles passaram, como se ele não tivesse sequer
vindo a este mundo.
Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria, minha mãe virginal,
perguntaram-me com vozes fortes e lamentos:
- Será que nosso pai morreu sem que nós nos apercebêssemos?
Eu lhes disse:
- Efetivamente, morreu, mas sua morte não é morte, porém vida eterna. Grandes coisas
esperam nosso querido pai José. Desde o momento em que sua alma sai do seu corpo,
desapareceu para ele toda espécie de dor. Ele se pôs a caminho do reino eterno. Deixou
atrás de si o peso da carne, com todo este mundo de dor e de preocupações, e foi para o
lugar de repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão destruídos.
Ao dizer a meus irmãos que o nosso pai José, o abençoado ancião, havia finalmente
morrido, eles se levantaram, rasgaram suas vestes e o choraram durante um longo tempo.
XXV. Luto em Nazaré
Quando os habitantes de Nazaré e de toda a Galiléia inteiraram-se da triste nova,
acudiram em massa ao lugar onde nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus,
passaram todo o dia dando sinais de luto até que chegou a nona hora.
Despedi, então todos, derramei água sobre o corpo de meu pai José, ungi-o com
bálsamo e dirigi ao meu Pai amado, que está nos céus, uma oração celestial que havia
escrito com meus próprios dedos, antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem Maria.
Ao dizer amém, veio uma multidão de anjos. Mandei que dois deles estendessem um
manto para depositar nele o corpo de meu pai José para que o amortalhassem.
XXVI. Bênção de Jesus
Pus minhas mãos sobre o seu corpo e disse:
— Não serás vítima da fetidez da morte. Que teus ouvidos não sofram corrupção. Que
não emane podridão de teu corpo. Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne,
mas que fiquem intactas, aderidas ao teu corpo até o dia do convite dos dois mil anos. Que
não envelheçam, querido pai, esses cabelos que tantas vezes acariciei com minhas mãos. E
que a boa sorte esteja contigo. Aquele que se preocupar em levar uma oferenda ao teu
santuário no dia de tua comemoração, eu o abençoarei com afluxos de dons celestiais.
Assim mesmo, a todo aquele que der pão a um pobre em teu nome, não permitirei que se
veja agoniado pela necessidade de quaisquer bens deste mundo, durante todos os dias de
sua vida. Conceder-te-ei que possas convidar ao banquete dos mil anos a todos aqueles que
no dia de tua comemoração ponham um copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma
viúva ou de um órfão. Hei de dar-te de presente, enquanto vivam neste mundo, a todos os
que se dediquem a escrever o livro da tua saída deste mundo e a consignar todas as palavras
que hoje saíram de minha boca. Quando abandonarem este mundo, farei com que
desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados e que não sofram nenhum tormento,
além da inevitável morte e do rio de fogo que está diante do meu Pai, para purificar toda a
espécie de almas. Se acontecer que um pobre, não podendo fazer nada do que foi dito,
ponha o nome de José em um de seus filhos em tua honra, farei com que naquela casa não
entre a fome nem a peste, pois o teu nome habita ali de verdade.
XXVII. A Caminho do Túmulo
Os anciãos da cidade apresentaram-se na casa enlutada, acompanhados daqueles que
procediam ao sepultamento à maneira judia. Encontraram o cadáver já preparado para o
enterro. A mortalha se havia aderido fortemente ao seu corpo, como se houvessem atado
com grampos de ferro e não puderam encontrar sua abertura, quando removeram o cadáver.
Em seguida, passou-se a conduzir o morto até seu túmulo. Quando chegaram até ele e
estavam já preparados para abrir sua entrada e colocá-lo junto aos restos de seu pai, veiome
à mente a lembrança do dia em que me levou até o Egito e das grandes preocupações
que assumiu por mim.
Não pude deixar de atirar-me sobre o seu corpo e chorar por um longo tempo, dizendo:
XXVIII. Exclamações de Jesus
— Ó morte, de quantas lágrimas e lamentos és causa! Esse poder, porém, vem d'Aquele
que tem sob o seu domínio todo o universo. Por isso tal reprovação não vai tanto contra a
morte senão contra Adão e Eva. A morte não atua nunca sem uma prévia ordem de meu
Pai. Existem aqueles que viveram mais de novecentos anos e outros ainda muito mais
tempo. Entretanto, nenhum deles disse: eu vi a morte ou a morte vinha de tempos em
tempos atormentar-me. Senão que ela traz uma só vez a dor e, ainda assim, é meu bom Pai
quem a envia. Quando vem em busca do homem, ela sabe que tal resolução provém do céu.
Se a sentença vem carregada de raiva, a morte também se manifesta colérica para cumprir
sua incumbência, pegando a alma do homem e entregando-a ao seu Senhor. A morte não
tem atribuições para atirar o homem ao inferno nem para introduzí-lo no reino celestial. A
morte cumpre de fato a missão de Deus, ao contrário de Adão, que ao não submeter-se à
vontade divina, cometeu uma transgressão. Ele irritou meu Pai contra si, por haver
preferido dar ouvidos a sua mulher, antes de obedecer à sua missão. Assim, todo ser vivo
ficou implacavelmente condenado à morte. Se Adão não houvesse sido desobediente, meu
Pai não o teria castigado com esta terrível sina. O que impede agora que eu faça uma oração
ao meu bom Pai para que envie um grande carro luminoso para elevar José, a fim de que
não prove das amarguras da morte e que o transporte ao lugar de repouso, na mesma carne
que trouxe ao mundo, para que ali viva com seus anjos incorpóreos? A transgressão de
Adão foi a causa de sobreviverem esses grandes males sobre a humanidade, juntamente
com o irremediável da morte. Embora eu mesmo carregue também esta carne concebida na
dor, devo provar com ela da morte para que possa apiedar-me das criaturas que formei.
XXIX. O Enterro
Enquanto dizia essas coisas, abraçado ao corpo de meu pai José e chorando sobre ele,
abriram a entrada do sepulcro e depositaram o cadáver junto ao de seu pai Jacob. Sua vida
foi de cento e onze anos, sem que ao fim de tanto tempo um só dente tivesse estragado em
sua boca ou sem que seus olhos se tornassem fracos, senão que todo o seu aspecto
assemelhava-se ao de um afetuoso menino.
Nunca esteve doente, senão que trabalhou continuamente em seu ofício de carpinteiro,
até o dia que sobreveio a doença que haveria de levá-lo ao sepulcro.
XXX. Contestação dos Apóstolos
Quando nós, os apóstolos, ouvimos tais coisas dos lábios de nosso Salvador, pusemonos
em pé, cheios de prazer e passamos a adorar suas mãos e seus pés, dizendo com o
êxtase da alegria:
— Damos-te graças, nosso Senhor e Salvador, por te haveres dignado a presentear-nos
com essas palavras saídas de teus lábios. Mas não deixamos de admirar, ó bom Salvador,
pois não entendemos como, havendo concedido a imortalidade a Elias e a Enoch, já que
estão desfrutando dos bens na mesma carne com que nasceram, sem que tenham sido
vítimas da corrupção, e agora, tratando-se do bendito ancião José, o Carpinteiro, a quem
concedeste a grande honra de chamá-lo teu pai e de obedecê-lo em todas as coisas, a nós
mesmos nos encarregaste: quando fordes revestidos da mesma força, recebereis a voz de
meuPai, isto é, o Espírito Paráclito, e sereis enviados para pregar o evangelho e pregai
também ao querido pai José. E ainda: consignai estas palavras de vida no testamento de sua
partida deste mundo e lê as palavras deste testamento nos dias solenes e festivos e quem
não tiver aprendido a ler corretamente, não deve ler este testamento nos dias festivos.
Finalmente, quem suprimir o adicionar algo a estas palavras, de maneira a fazer-me
embusteiro, será réu de minha vingança. Admira-nos, repetimos, aquele que, havendo
chamado teu pai segundo a carne, desde o dia em que nasceste em Belém, não lhe tenhas
concedido a imortalidade para viver eternamente.
XXXI. Resposta de Jesus
Nosso Salvador respondeu, dizendo-nos:
— A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não deixará de ser cumprida, já
que este não foi obediente aos mandamentos. Quando meu Pai destina a alguém ser justo,
este vem a ser imediatamente o seu eleito. Se um homem ofende a Deus por amar as obras
do demônio, acaso ignora que um dia virá a cair em suas mãos se seguir impenitente,
mesmo se lhe concederem longos dias de vida? Se, ao contrário, alguém vive muito tempo,
fazendo sempre boas obras, serão exatamente elas que o farão velho. Quando Deus vê que
alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe um curto prazo de vida e o faz
desaparecer na metade dos seus dias. Quanto aos demais, hão de ter o exato cumprimento
das profecias ditadas por meu Pai acerca da humanidade e todas as coisas hão de suceder de
acordo com elas. Haveis citado o caso de Enoch e Elias. Eles, dizeis, continuam vivendo e
conservam a carne que trouxeram a este mundo. Por que, então, em se tratando de meu pai,
não lhe permiti conservar seu corpo? Então eu digo que, mesmo que houvesse chegado a ter
mais de dez mil anos, sempre incorreria na mesma necessidade de morrer. Mais ainda, eu
asseguro que sempre que Enoch e Elias pensam na morte, desejariam já havê-la sofrido a
verem-se assim, livres da necessidade que lhes é imposta, já que deverão morrer num dia de
turbação, de medo, de gritos, de perdição e de aflição. Pois haveis de saber que o Anticristo
há de matar esses homens e de derramar seu sangue na terra como água de um copo por
causa das incriminações que lhe imputarão, quando os acusarem.
XXXII. Epílogo
Nós respondemos, dizendo:
— Nosso Senhor e Deus, quem são esses dois homens, dos quais disseste que o filho da
perdição matará por um copo de água?
Jesus, nosso Salvador e nossa vida, respondeu:
— Enoch e Elias.
Ao ouvir essas palavras da boca de nosso Salvador, se nos encheu o coração de prazer e
de alegria. Por isso lhe rendemos homenagens e graças como nosso Senhor, nosso Deus e
nosso Salvador, Jesus Cristo, por meio de quem vão para o Pai toda a glória e toda a honra
juntamente com Ele e com o Espírito Santo vivificador, agora, por todo o tempo e pela
eternidade das eternidades. Amém.

13 de agosto de 2012

Por que nos Falta Entendimento?

Meditações de Oswald Chambers
“Ordenou-lhes Jesus que não divulgassem as coisas que tinham visto, até ao dia quando o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos” (1 Pe 2:24) 
Não diga nada até que o Filho do homem o ressuscite a si – até que a vida do Cristo ressuscitado o domine de tal forma que entenda por inteiro o que o Cristo histórico ensinou para aplicar e escrever em si agora. Quando você chegar interiormente à conclusão certa, a palavra que Jesus falou como verdade que se realiza agora, só então se tornará tão claro para si que se admirará de não tê-la entendido assim antes. Você não a poderia ter entendido antes, porque não tinha alcançado a disposição que lhe permitiria suportá-la e subscrevê-la.
Não é que o Senhor esconda de nós alguns fatos; claro que não. É que só podemos suportá-los quando atingimos certa maturidade na vida espiritual. “Tenho ainda muito que vos dizer, mas, vós não o podeis suportar agora”. Antes que possamos estar preparados para suportar determinada palavra precisamos entrar em comunhão com a vida ressurgida de Cristo. Será que entendemos alguma coisa sobre a comunicação dessa vida ressurreta?
A evidência de que a entendemos é se o Senhor pode, agora, interpretar dentro de nós para nós sua Palavra. Deus não pode revelar-nos coisa alguma se não tivermos o seu Espírito. Uma atitude obstinada em nós impedirá que Deus nos revele qualquer coisa. Se já temos determinada convicção sobre certa doutrina, impossibilitamos Deus de nos dar mais revelações sobre esse mesmo assunto. Mas assim que a vida de ressurreição de Cristo nos domina por inteiro, esse período de obstinação tem seu fim contado.
“Ordenou-lhes… que não divulgassem…” Muitos divulgam o que viram no monte da transfiguração! Tiveram a visão e testificam dela, mas, a sua vida não corresponde ao que viram; o Filho do homem ainda não ressuscitou neles. Eu me pergunto quando irá ser ele totalmente formado em si e em mim.
Fonte: www.reavivamentos.com